quinta-feira, setembro 01, 2011

Em Brasília o palhaço é o Tiririca. Em Carlos Barbosa é o povo.


Em um tom de arrogância que eu jamais havia visto, nossos nobres vereadores se orgulhavam em dizer da nobreza e valor do seu trabalho, e que o povo, provavelmente constituido de uma massa de ignorantes, aliás, massa de manobra, não sabia o que o vereador fazia. Culpa do povo, obviamente, jamais dos nobres vereadores. 

O curioso é que em nenhum momento se deram conta que o seu trabalho como vereadores é tão ruim que o povo "nem chega a saber o que faz um vereador". Ou eles
são muito ruins, e não conseguem nem mostrar ao povo para o que foram eleitos, ou, infelizmente, o povo sabe qual é o trabalho deles, e por isso os reprova.

A arrogância da noite de hoje provou isso: Não sabem o que é representatividade. Em plena consciência do que faziam, foram contra a maioria absoluta da população. Em parte talvez eles tivessem razão na crítica: Se o povo sempre assistisse às sessões da câmara não teriamos esse problema, pois esses vereadores certamente não teriam sido eleitos. 

Isso, no entanto, não teve nada de novo em relação ao resto do Brasil. Contudo, Carlos Barbosa teve algumas infelizes contribuições de novidade.

Que o povo é acomodado não é novidade, todos já sabem. Novidade foi, ao surgir um movimento popular, com número absolutamente expressivo de pessoas para uma cidade pequena, em dia de semana, onde muitos jovens tem aula, outros tantos trabalham, esse movimento ser achincalhado pelos nobres vereadores. Isso foi novo. A acusação mais leve foi de que era uma "massa de manobra", que não era apartidária (como se fosse um grave crime alguem se filiar em partido político), e que eram manipulados pela mídia, chegando ao ponto de se dizer que eram todos cabos eleitorais dos vereadores do PMDB e PDT. Em geral, foram tratados por "gurizada", não obstante constar na platéia a atriz mais famosa de Carlos Barbosa, a Senhora Odina do Monte Guerra, que calculo ter por volta dos seus 80 anos de idade.

Num jogo de palavras que só mentes brilhantes, como nossos 6 vereadores conseguem entender, democracia virou demagogia. Qualquer manifestação do povo era demagogia. Essas, e outras palavras de ordem, sem muita conexão lógica. Para não falar do remendo de discurso marxista, que certamente fez o grande Karl Marx se remecher no caixão. Ironicamente, os comunistas adotaram o discurso da "representatividade", nada mais burguês, apesar de terem tentado convencer do contrário.E esse é o primeiro esclarecimento que se deve fazer: o discurso da representatividade é um discurso burguês, primeiro porque essa foi uma conquista histórica da burguesia, segundo porque retornaram à um modelo democrático que pensa a política sob uma perspectiva abstrata, onde a pura e simples garantia formal do aumento de vereadores traria, magicamente, a tal representatividade. (Que até agora não sei o que eles entendem por representatividade, já que não representam em nada a vontade do povo).

O presidente da câmara disse que ninguém é dono da verdade, mas sustentou um discurso marxista no qual a sociedade toda é "manipulada" pela burguesia. A consciência do povo é a consciência da classe dominante, sem nenhum exame de se essa teoria tem alguma aplicabilidade para o Brasil. O engraçado dessa história é que parece que só os marxistas enxergam isso, que há uma verdade que só é acessível à eles. 

Outro esclarecimento necessário: O Vereador Valmir Zapparolli, ou é mal intencionado, ou é mal informado. Acusou o PDT de Pompeo de Mattos de largar o abacaxi para os vereadores, pois é o autor da "PEC dos Vereadores". Ocorre que antes da emenda de Pompeo a regulação da matéria era extremamente simplista, quase sem proporção, e estabelecia um limite mínimo de 9 vereadores, e máximo de 20, para municipios com até um milhão de habitantes. Para Carlos Barbosa, Pompeu reduziu drasticamente o limite de vereadores para a cidade.

Enfim, foi uma noite triste. O Povo estava de parabéns. Quem? Sim, o povo! Aquele que em toda história desse país nunca apareceu. Hoje lá estava. E foi zombado. E desrespeitado. Por aqueles que deveriam estar la para representar o povo.
Foi triste! Muito triste. 

"Fracassei em tudo o que tentei na vida. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu". Darcy Ribeiro

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