segunda-feira, setembro 11, 2006

Que independência?


Quinta feira em estado de inércia acordei. Na inércia continuei. Quieto fiquei, enclausurado permaneci. E ao som do rufar dos tambores eu nada fiz. Mas sei que la fora por detrás de uma linha o povo estava. Em inércia também. A mesma inércia de todos os tempos. Assistia um espetáculo que não era seu. Separados por uma linha estavam aqueles que faziam a história, e aqueles que assistiam... E lá estava o povo. E essa história não é de hoje. Na gênese da república começaram os desfiles militares. Os desfiles de 7 de setembro. O 7 de setembro que foi comprado, à contramão do que fizeram nossos vizinhos. Inicio da dívida externa. Inicio da inércia. Instituia-se que todo ano o povo veria o poder desfilar. Nada de novidade na história do país que alijou seu povo. O retrato mais fiel da grande conquista que há anos comemoramos é o quadro "Independência ou morte" de Pedro Américo. Também conhecido como "O grito do Ipiranga". Faço questão que olhem. Um bando de cavalos alvoroçados, um homem a erguer uma espada, e o mais perto de se chamar de "povo" é um carroceiro que passa pelo local com cara de quem não entende o que está acontecendo. E logo também chega o 20 de setembro, e o povo comemora a guerra que perdeu. Desculpem.... "guerra" é muito forte. Foi uma revolta das elites. O povo tava lá representado pelos escravos que sonharam com sua liberdade e foram alvejados quando baixaram suas armas. Nada de novo. Não poderia ser exclusividade dos paulistas comemorar guerra que se perde. Mas a história continua e chega a tal ponto de se criar a "Ilha da Fantasia". Lá tudo é belo. Lá não há violência. Lá não há pobreza. Lá tem forma de avião e lá tem rampa para subir de tanque. Mas lá não tem o povo. Seus governantes mais uma vez o abandonaram. Para longe dos olhos do povo. Eu não consigo sentir prazer nos desfiles de 7 de setembro. Eu não me sinto parte disso. Talvez eu seja essa parcela da população que permaneceu a história toda afastada desse jogo. Essa parcela chamada povo.

Um comentário:

Unknown disse...

Valeu! Gostei da sua reflexão... é isso aí!!!!